domingo, 27 de setembro de 2015

"Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido."




Clarice Lispector, em Água Viva.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

A Valsa do Tempo


PS: ASSISTAM o vídeo, por favor! haha
 

   "Ahh, que grande mistério o jeito que o menino tem de brincar com o tempo. Sempre sobra tempo pra tudo! O tempo... Ahh, que amigão! "O tempo pra ele faz horas, horas a mais."
 Essas são as frases que dão início a uma das cenas mais marcantes da minha infância. O menino maluquinho não foi só um filme pra mim, foi o retrato da minha infância. Ahh, a infância... A melhor fase da minha vida. Quando o tempo se fazia infinito, se fazia puro, se fazia cintilante.

  Meus sonhos impossíveis se tornavam todos possíveis dentro da minha mente ilimitada de criança. Eu poderia ser pintora, médica e escritora ao mesmo tempo. Nas horas vagas poderia ser cantora ou, que tal atriz? E se alguma coisa do meu dia a dia chamasse minha atenção, eu poderia trocar de sonho e me tornar juíza, ou terapeuta, quem sabe.

  Eu tinha 7... 8... 9 anos. Cada ano era uma vitória, uma alegria e ainda assim parecia que a infância seria eterna. O tempo passava lento, as horas eram preciosas para brincar com meus amigos invisíveis, minha casinha de boneca, minha casinha na árvore toda enfeitada para o natal (trabalho levado a sério todos os dias por horas e horas de dedicação em decorar a árvore).

  Ter uma infinidade de amiguinhos e ainda dizer que os amava sem medo, sem culpa, sem querer nada em troca era a coisa mais pura vinda do coração de um serzinho de 10 anos.
                                  

   Lembro-me bem de quantos atores e artistas famosos eu admirava, de como eu "entrava na televisão" e só saía de lá no fim de um filme, com aquela sensação horrível de ter acabado aquela magia que vivi por algumas horas. Agora a cada ano que passa todos os meus atores e artistas preferidos estão envelhecendo e se vão pra outra dimensão.
   Nao vou dizer que pensava que as pessoas eram eternas, porque desde muito nova senti na pele o que significa a perda de uma pessoa muito amada e próxima. Talvez esse tenha sido um ponto que sempre fez eu desfrutar ao máximo os momentos vividos com as pessoas que tanto amava e com outras que amo.
   Hoje tenho só a memória, a lembrança, algumas fotos e a saudade.
   Hoje tenho pouco tempo, o dia já se vai com horas e horas e horas de estudo. Amanheço e anoiteço lendo livros "técnicos" e precisos sobre o Ser Humano.
    Antes poderia ser várias profissionais em uma só, hoje mal dou conta de querer ser Médica.
    Às vezes tenho medo de deixar de sonhar. Parece que aquela pessoa sonhadora e a pureza que faz acreditar que tudo é possível tende a esvair-se como areia entre os dedos, com o passar dos anos.
     Quero fazer do meu tempo mais precioso ao lado das pessoas que amo, junto da natureza e da divindade. Quero que seja largo igual na infância. Mas agora cresci e tenho responsabilidades, vaidade e tenho que enfrentar o mundo sozinha. E isso me toma tempo, leva aquelas horinhas maravilhosas do dia pelas quais na infância eu só pensava em esperar ansiosa para a minha amiguinha chegar. E a preocupação só era de quais brincadeiras iríamos nos divertir.
     Saudade de quando a minha vó ou a minha mãe mandavam eu entrar em casa, porque o almoço já estava servido ao meio-dia em ponto e todos estavam a postos na mesa em um almoço em família.  Hoje almoço em qualquer horário, almoço qualquer coisa e muitas vezes, sozinha.
     Saudade de quando eu tinha infinito tempo pra pensar em qualquer coisa e escrever no blog. Em procurar palavras desconhecidas, exóticas e lindas no dicionário de português só pra embelezar meus textos. Hoje mal dou conta de escrever palavras que se mesclam com a gramática da língua espanhola, com o meu cérebro já um pouco argentinizado.
     Talvez essa falta de tempo seja só uma falsa ideia que os adultos criaram. Não sei. Mas é duro, viu! Saber ter disciplina e saber administrar o tempo na vida adulta é quase uma faculdade... Acho que essa criança ainda está fortemente presente em meu interior. Vontade de simplesmente fazer o que eu quiser nos próximos minutos, nas próximas horas e nos próximos dias. Meus professores um dia foram mais amados, me ajudavam mais, tinham toda a paciência do mundo para ensinar uma criança curiosa e que estava descobrindo a inteligência. Agora a realidade é outra... A vida cobra sério e a gente tem que entender.
      Agradeço igualmelmente por ter desfrutado da minha infância muito mais tempo do que a maioria das meninas da minha idade. Agradeço pela sabedoria que tive de que ser adulto não seria fácil, então pude aproveitar plenamente todos os meus dias de criança. Agradeço por ter crescido com essa ideia de querer ajudar as próximas a brincarem no seu tempo infinito e serem elas mesmas, sonharem sem limitações e fazerem exatamente tudo o que quiserem. Porque a infância é isso: é a magia de inventar e fazer exatamente o que quiser.
      Quero deixar claro que uma coisa é certa: a minha criança interior nunca morre e não importa o que aconteça - não importa quanto tempo passe - os meus sonhos serão infinitamente mágicos e se realizarão. Porque eu imagino, eu acredito e eu crio.
      Os maiores Seres Humanos do mundo, ou os chamados "Super Humanos" sempre acreditaram na sua criança interior, na capacidade de acertar mesmo errando muitas vezes, na capacidade de persistir mesmo caindo, na capacidade de sorrir mesmo querendo chorar.

      O segredo da vida é sempre manter aquela criança que está dentro de você, mesmo que as horas agora passem mais depressa e que suas prioridades sejam outras. Nunca se esqueça da maior prioridade da sua vida que é você mesmo e o seu precioso "tempo" que não volta mais.

                   







     
     

terça-feira, 15 de abril de 2014

Contos de fadas x histórias de amor




Porque toda menina um dia sonhou com uma história feita de contos de fadas.
Toda menina um dia sonhou ser uma princesa e encontrar seu príncipe.
Toda menina um dia quis ter um castelo, um vestido encantado e um jardim cheio de flores.
Porque toda mulher um dia sonhou receber rosas.
Porque toda mulher um dia sonhou em ouvir um eu te amo do seu amor.
Entre ser menina e ser mulher, essa transição meio mágica e obscura, é também um choque de realidade.
Esperar da janela do seu castelo nunca mais foi a mesma coisa.
A vontade era de se atirar de lá.
Por quê? Porque acontece tanta coisa, tantas decepções e encantos que passam e viram sapos engasgados.
Quem nunca planejou uma vida inteira antes de dormir?
E acordou com o fantasma da traição. Com o fantasma da decepção, do amor não correspondido, e das flores que nunca chegaram,
E a bruxa era aquela que enfeitiçou seu príncipe bem no meio da sua história encantada.
Porque sem bruxa não são contos de fadas. Talvez não exista o felizes para sempre.
Um pouco forte, não?
Não. Isso é real.
Isso até parece soar pessimista.
Ou eu não dormi muito bem essa noite. Talvez três horas de sono bastaram para enxergar a vida como ela é.
Ou você a engole, ou é engolida por ela.
A arte da sedução é cansativa até certo ponto na vida adulta.
E o príncipe não chega.
Não quero dizer que seja perfeito. Mas imperfeitamente perfeito para você.
Esperar virou uma arte.
Virar a página ou rasgar essa página da sua história também pode ser possível.
Se dedicar aos amigos ou à sua profissão já não é uma escolha, é um dever.
Você tinha 15 e, de repente 30...
A cabeça muda, mas os desejos e sonhos ainda são os mesmos, na essência da coisa.
Querer cuidar do próximo virou prioridade.
É como a história da Cinderela, sem o final. E sem alternativa.
E então você decide escolher entre o sapo ou a sua própria companhia.
Porque esperar parece ser insuportável.
Não faça isso.
Amar-se é melhor que amar um bruxo disfarçado de príncipe.
A sua própria companhia pode te supreender, pra melhor. E então o amor vira consequência, complemento, parceria, felicidade.
Você quer um amor, todos querem... Então espere. Que é como esperar na fila de um banco: sempre chega a sua vez.
Contos de fadas, é... Contos de fadas realmente não existem.
Mas existem histórias reais, "contos" de amor dignos de um filme com direito a pipoca e refrigerante. Tem até aquela sua trilha sonora preferida.
Essa é a história da menina que virou mulher, que decidiu sair da janela do seu castelo, viver erros e decepções... E então encontrar seu príncipe que te encanta, mesmo atrapalhado. Que arranque uma flor de uma casa aleatória, que diga eu te amo quando está bêbado, que te pede em casamento e percebe que é uma loucura viver com você. E que te aceita, mesmo louca, mesmo imperfeita, mesmo chata.
Esse é o teu príncipe.
Da vida real.
Então espere. Aceite os sapos, tome a poção da bruxa. Depois tenha seu final feliz.
Porque a vida não é propaganda de margarina. A vida é um terreno baldio, até você torná-la um lindo jardim à sua maneira.



terça-feira, 1 de abril de 2014

Debaixo da lua minguante




Estava desatenta.
Pensava em outro alguém.
Queria uma bebida forte.
Tomava na mesa do bar,
enquanto me olhavam.
Eu encarava, porque achava graça.
De repente quis jogar.
Comecei a partida sem ter estratégia para a chegada.
Fui na direção do meu alvo.
perdi logo no começo,
empatei,
ganhei,
perdi de novo.
Estou aqui, imóvel, confusa...
Sem entender que ponto falhei.
Foi você, o culpado.
Chegou de mansinho, me enganou com sua estratégia
de atenção e prestatividade.
Devorou a tua presa como se fosse a última que restava no mundo.
Agora é hora de virar o jogo, nada de vacilar.
1x0 pro coração.
2x1 pra você.
Parabéns, conseguiu o que queria.
Agora vá embora, por favor?
Suma!
Não costumo perder, não costumo entregar os pontos.
Nada de entregar o coração.
Que coisa estranha é essa? Como se eu dependesse mesmo dessa droga
pra viver. 
Não preciso de ninguém nem de você como amante. Porque amar é 
secundário.
Estou fria como o gelo da Antártida e não há nada que mude a minha tacada final.
Quero um homem, não um menino.
Todavia, por agora quero um uísque com gelo.
As minhas aventuras sempre foram com a minha solidão.
Então, um passo para trás, agora.
Não venha com esse papo romântico e barato, digno de boas gargalhadas.
Como se não soubesse que já ouço há tempos.
Como se não soubesse que já caí nessa há alguns anos.
Não me venha com promessas não cumpridas outra vez.
Esse jogo barato já virou rotina pra você. Só pra você.
Não tenho criatividade para a sua infantilidade mental.
Então digo-te que és meu inferno e meu paraíso... astral.
Infâme foi a noite que não dormi, pensando nos seus beijos, na noite que perdi o jogo pra você.
Sonhei em construir uma vida com você e ao mesmo tempo desejei jogar-te pela janela do décimo quinto andar.
Te odeio e te adoro.
Te quero e te repudio.
Bebo do cálice de vinho mais doce e cuspo no teu copo.
Porque te desejo e não te suporto.
Você é minha calma e meu saco de pancadas.
É meu amigo, meu amante e ao mesmo tempo como o irmão mais irritante.
Venha na calada da noite enquanto eu estiver dormindo e deite do meu lado.
Não me acorde.
Diga que pensa em mim e me beije a testa.
Diga que ficará do meu lado.
Eu não preciso do seu amor, porém necessito da sua amizade.
Senta aqui, te faço um chá e te conto meus planos debaixo da lua minguante 
e te digo que tens o abraço mais confortante.





sábado, 8 de março de 2014

Paz angelical para o grito tácito.


Sonho todas as noites com a melhor noite dos meus sonhos já realizados.
Tento apagar os borrões de palavras obscuras dos meus dias que deveriam ser tão em paz.
Porque conviver não é fácil, às vezes só se quer fugir, ficar só, em lugar nenhum.
Todavia, às vezes quero fugir nos braços de alguém que não pode suprimir tudo isso.
Eu não tenho o que quero ter e tenho o que não quero.
Eu não sei o que quero.
Digo, sentimentalmente.
Digo, quero aquele que não posso quando quero.
Quero descansar no silêncio, à meia-luz, no ombro teu.
Quero encostar minha cabeça no sofá e imaginar pássaros esculpidos em cristais às três da manhã, acompanhada de um perfume amadeirado que cheira a companheirismo e proteção.
Tenho pensado em não pensar tanto.
Tenho aumentado o som da música que me leva à loucura em mim mesma, pra não pensar nem ouvir qualquer coisa que não seja o silêncio que a melodia traz para a minha mente.
Esperar virou rotina.
Esperar nunca foi meu forte.
Esperar o quê? Até quando?
Esperarei até amanhã quando eu acordar cedo para caminhar nas ruas ventiladas pela brisa da manhã.
E depois? Depois eu o encontro para encontrar a minha paz e dizer adeus.
A despedida é rápida, discreta e dolorosa. Talvez mais dolorosa que a falta que irá me fazer quando a busca pela paz não estará mais lá. Irá se apagar. Tudo irá se apagar.
Eu não digo não para o que deveria, me calo para ofensas cravadas até o fim dos meus dias, e digo não para aquilo que seria o meu ponto de equilíbrio e ao mesmo tempo minha incerteza.
Eu sou assim, louca.
Eu sou assim, andarilha dos meus pensamentos.
Quem está aqui agora em mim? Sou duas em uma, como aquele signo mais maluco do zodíaco.
Pensar demais sempre foi minha perseguição mental. Pensar de menos tem sido raro.
Quero me afogar na melodia inebriante e estourar os ouvidos no som da ilusão mental. Cansei. Cansei de pensar demais.
O som do rádio é melhor que a voz daquela pessoa inoportuna opinando na minha vida e dizendo suas asneiras inapropriadas e descabidas, que deveriam ser revertidas para o seu próprio veneno tão barato.
Voltando àquele que me trouxe a paz e ao mesmo tempo a incerteza, quero dizer que sinto muito, queria ficar, queria dormir ali até o fim dos meus dias, queria simplesmente entrar nesse mistério que é a sua vida tão mais interessante.
Aquele sorriso na tarde de sábado deveria sumir dos meus pensamentos. Porque pensar é o que menos quero agora. Nesse desnecessário tão necessário que é esse ser angelical que apareceu nos meus dias fugazes.
Eu não sei o que escrevo, parece que vem da alma, compreende? É uma mistura de indignação, revolta, vontade de gritar e me impor pra quem desarmoniza os meus chacras alinhados para ser uma pessoa melhor. Porque essa pessoa tem muito ainda para crescer em meio a tanta razão irracional. Não, eu não errei, pois é bem isso que digo; ou quero dizer então: a dona da verdade que não se tem.
Eu grito, grito por dentro, matando um leão por dia e querendo esse aquariano bem aqui, comigo. Mas ao mesmo tempo quero que procure um lugar seguro, longe de mim. Não, quero que fique perto.
Parece que gosto disso, do mistério e da incerteza de ter quem tanto me vicia de gestos doces, calados, discretos e em largos espaços de tempo. Que é pra eu ter o desafio mental de não saber se conquistei realmente. O previsível nunca foi pra mim.
E aquele par de olhos exatamente da cor dos meus, até parece feito do mesmo DNA, tem sido a dúvida do destino tão brincalhão com o meu coração indomável.
Eu me acostumei sozinha, mesmo que acompanhada todos os dias com estranhos tão opostos a mim. Mas vendo tanta semelhança em alguém que apareceu há pouco, dá até vontade de ficar, ficar a dois.
Não... Adeus. Ou... Até logo, meu anjo.


 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Intra-Ocular



O tempo passou depressa e hoje estou aqui, crescida. Estou me despedindo do cheiro de mato molhado após a chuva no fim de tarde, do sabiá cantando no pé de bergamoteira, das pombas na laranjeira, do céu azul forte pela manhã e alaranjado ao entardecer, visto da janela da cozinha. Estou me despedindo da jabuticabeira e até das roseiras e daquelas joaninhas coloridas no jardim. Ahhh, tchau beija-flor...
   Quanto tempo eu adiei essa partida? Um, dois, três... quase quatro anos. Todavia, não existe mais a espera - é hora de partir sem olhar para trás.
   Eu nasci nesse lar, há 20 anos, convivi com meus avós - meus segundos pais - eles deixaram esta magia há algum tempo e me deixaram aqui. Agora chegou a hora de recolher a roupa jogada e guardar na mala. Vou juntar as lembranças e guardar no coração.
   Trago comigo aquele olhar doce de criança inocente, o sorriso sincero e o medo do passar do tempo, da escuridão, do silêncio solitário.
   Neste momento as fotos antigas voam com o vento que sopra na janela do meu quarto. A porta se fecha.
   Levo comigo o gosto por fazer as pessoas rirem, a vontade de fazer bem ao próximo e seguirei em busca do que, no fundo, eu sempre quis: aliviar o sofrimento do ser humano para que continue realizando seus sonhos.
   Tenho olhos de menina inocente e dríada, com pensamentos díspares. Sou como um anjo caído do céu, perdido no desejos sapientes ou equivocados que provocam e assombram.
   Corri comigo, me perdi pelo caminho, me quebrei em cacos de vidro e me juntei, formando um cristal reluzente.
   Fui o sorriso de um palhaço e o rascunho da obra das estátuas de Michelangelo.
   Andei pelo deserto do Saara, escalei o Monte Everest e agora atravesso o Oceano Atlântico em busca dos Jardins Suspensos da Babilônia.
   Vou sozinha, vou sem pressa e levo comigo a criança que sempre esteve em mim.
   Se eu tropeçar, me ergo como as muralhas da China. Se eu chorar e quiser voltar, aguentarei firme e serei persistente como um esportista que saiu da unanimidade para o pódium.
   Sinto falta, sinto muito, sinto por ter crescido e perdido a ingenuidade doce que tinha. Agora sou mulher, com meus tropeços e acertos, com a maturidade aflorando e os caminhos mudando.
  Eu cresci e senti o sabor da minha criança interior cada vez menos puro, mas a criança que eu sou estará de alguma maneira dentro de mim, até o fim.

 








Autobiográfico.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Filantropia

                                           

 Você que está aí sentado no sofá, sabe o que está acontecendo no mundo neste momento? Quantas pessoas são mortas por dia, quantas pessoas são violentadas física e verbalmente, quantas pessoas não têm oportunidade de ter uma vida melhor, quantas pessoas não têm o que comer no jantar, quantas pessoas não têm um colchão e um travesseiro macio para dormir... Você sabe disso?

 Não, não é só na África que crianças passam fome, que morrem por falta de atendimento médico, que não têm oportunidade, que suplicam por uma gota de chuva, por um pedaço de pão, por um minuto a mais de vida.
  E você, você já quis se matar só porque o namorado te deixou, não é mesmo?
  Me diga, você sabe realmente o que é necessário na sua vida? Um carro, um celular de última geração, um namoro como status, festas - no mínimo de quinta a domingo - mulheres lindas por fora. Tudo isso ou alguma coisa das quais falei é essencial para a sua felicidade? No fim, te torna uma pessoa vazia.
  Pois a felicidade está em amar, amar incondicionalmente o próximo, a natureza, o universo.
           
  Hoje quando você acordou, abriu a janela, viu o dia lindo lá fora e agradeceu por ele? Ou simplesmente reclamou mais um dia por ter de acordar cedo, trabalhar ou estudar deveras mais uma vez?



  E então você diz que se importa com o próximo, com as crianças da África, da Síria ou do Haiti, todavia reparou na criança do bairro pobre da sua cidade, na criança órfã, no mendigo da praça no final da sua rua?

 Você diz que ama as pessoas e que faz o bem... Então me responda, você já criticou alguém hoje? Já acreditou em um quase desconhecido acusando o seu amigo e preferiu não ouvir o que este tinha a dizer? Você está cego de ódio pela sua ex namorada? Você não consegue perdoar o seu pai por ter aprontado com a sua mãe e sumido no mundo? Você já fez fofoca da vida alheia hoje? Se respondeu sim para pelo menos uma das perguntas, então você não ama plenamente nem faz o bem de corpo e alma, há algo em você que precisa mudar. Acha que não? O seu ego fala mais alto, é claro. Ouça, observe, aprenda, ame realmente e evolua.
 

  Talvez você me diga que o mundo não mude, que não há o que fazer, que não é possível mudar essa realidade. Pois lhe digo que o mundo muda - mas se você mudar.
  O mundo não muda se as pessoas acham normal a fome na África ou no bairro da sua casa, as mensagens de ajuda na internet, na TV ou no rádio, se as pessoas não se chocam mais com a realidade cruel de muitas famílias desestruturadas, de muitas crianças e jovens perdidos, pedindo socorro, suplicando um olhar de afeto e um gesto de caridade.
 
Talvez você tenha perdido a fé na vida. Talvez você não acredite mais em Deus.
Talvez você não acredite mais nem em você mesmo.
Enquanto há crianças miseráveis que são mais sábias que você, mesmo tendo apenas a sua fé para sobreviver num mundo cruel.
Você diz que Deus é cruel, por deixar isso acontecer. Eu digo que o homem é cruel por ver isso acontecer e não ajudar o seu semelhante, seja criança, adulto, índio, negro, branco, pobre, bandido, prostituta.
A pior crueldade é a do homem, que julga sem saber a real história de alguém, que é descrente mesmo tendo uma vida confortável, que desperdiça mesmo vendo súplicas de pessoas com fome, que trapaça o seu irmão mesmo que ele o ame muito e o tenha ajudado muitas vezes na vida.
 O pior miserável é aquele que tem tudo e não ajuda ninguém.
 O pior miserável é aquele que pensa em si próprio e nada mais.    

 O pior miserável é aquele que acha defeito em si próprio e gasta muito dinheiro para ser a carcaça perfeita, mas não gasta nem cinco minutos para ajudar alguém ou para dar amor dentro da própria casa, quem dirá dar amor a um desconhecido. 



  Por fim, você não precisa abdicar do conforto, da estética, dos bens materiais, do status ou das festas. Você só precisa amar, e então as coisas acontecem, as coisas melhoram - em você e no mundo.
  Não seja apenas uma modelo global, o melhor jogador, o melhor médico, a melhor atriz, o melhor engenheiro, a melhor presidenta. Seja alguém que ficou para a história pelo amor pleno, por mover céus em busca do amor mundial. Seja como Mahatma Gandhi, Martin Luther King ou Nelson Mandela. Não seja exatatamente igual, mas seja você mesmo movendo todo um povo e mudando a realidade de um planeta tão desumano.



                                                          Você é um, mas pode ser todos.